João Vasconcellos - escritor    

Sem mapa no território - estudo da capa -

por João Vasconcellos

 Em lugar da bússola coloquei uma roda da fortuna, representando o fator imponderável que rege as nossas vidas.
'Sem mapa no território', meu novo livro (em produção)
Por conta do entusiasmo pelo qual meu primeiro livro (Pensão Margaridas, 170 págs., Editora Ponto Vital, 2015) foi recebido, tomei a firme decisão de me tornar escritor, e estou escrevendo 'Sem mapa no território', (também de matriz biográfica) que constitui-se em relatos memorialísticos (dos treze aos quarenta e poucos anos), em que narro histórias absolutamente inéditas. Inéditas sob vários pontos de vista...  

A minha vida se constituiu num vasto laboratório experimental até os quarenta anos. Esta fase de 'laboratório', felizmente, já passou... Por sorte escapei com vida a isso tudo... Estou executando o que chamo hoje de fase de relatório. São relatos singulares que se aproximam, por vezes, do ensaísmo autobiográfico, do confessionalismo lírico, com mergulhos interiores e arrebatamentos poéticos... Algumas histórias são povoadas por inesperados personagens.

Inicio a HISTÓRIA UM com versos que eu tomei emprestado a LE VOYAGE, de CHARLES BAUDELAIRE, sob a forma de epígrafe:
                               Pour l'enfant, amoureux de cartes et d'estampes,
                        L'univers est égal à son vaste appétit.
                        Ah! que le monde est grand à la clarté des lampes!
                        Aux yeux du souvenir que le monde est petit!

Na HISTÓRIA SETE (a última narrativa, enfim) eu relato a forma pela qual recomecei a minha vida do zero - aos trinta e seis anos - após o episódio das Margaridas... E o leitor haverá, certamente, de se perguntar: "Como terá sido a superação depois do naufrágio, depois de ter vivido em regime carcerário e afastado do convívio social?" 
Dispostas de forma 'assimétrica', mas procurando, contudo, alguma coerência temática, as histórias desaguam e se resolvem no capítulo final, com surpresas, reencontros, além de uma pungente crítica à nossa sociedade... Se em certo momento o leitor parece deparar-se com uma uma visão pessimista, niilista, com uma tendência à fragmentação do eu e à dissolução ôntica, no epílogo, quem sabe, se vislumbra uma saída, como que um portal para uma ascese interior e para o auto-conhecimento...